TRINTA E OITO ANOS
Faltam poucas horas para que se perfaçam trinta e oito anos sobre o dia em que o Exército, a Marinha e a Força Aérea, através do Movimento dos Capitães, mais tarde assumido como Movimento das Forças Armadas, criaram as condições para se declarar a democracia em Portugal.
Nas semanas subsequentes a 25 de Abril de 1974 a liberdade foi reassumida integralmente e, um ano depois, realizaram-se as primeiras eleições livres no ortugal de Abril. Os militares cumpriram as promessas que haviam feito um ano antes. Em 1976 estava a ser votada a nova Constituição Política e, funcionando como órgão tutelar da democracia, manteve-se em actividade até 1982 o Conselho da Revolução. Tinha que se garantir aquilo que se passou a designar pelo “espírito de Abril”, ou seja, a liberdade, a democracia e a justiça social.
Esses foram os pilares, para além da descolonização, sobre os quais, o Movimento das Forças Armadas queria ver reconstruída a sociedade portuguesa.
Por isso se fizeram as nacionalizações em 11 de Março de 1975 – havia que travar o passo à reacção que se concentrava em redor dos grandes interesses capitalistas que tinham apoiado o regime do Estado Novo. Travar o passo à exploração que havia sido o esteio do fascismo português, porque Abril tinha um ideal; não era socialista, não era comunista, não era social-democrata; era, acima de tudo, o ideal de justiça social. Um ideal de sociedade onde cada um chegasse tão longe quanto as suas honestas possibilidades o pudessem levar. Era um ideal de lhana verdade, de honradez, de verticalidade, de frontalidade.
Era um ideal cívico igual àquele que nas fileiras militares se ensina a quem nelas vive, porque, na tropa imperam valores de coragem e abnegação que são compatíveis com outros praticáveis por toda a sociedade. Esses valores, todos eles, haviam sido vividos pelos Capitães de Abril em campanha, nas frentes de combate em África, quando enquadravam os filhos do Povo que a Nação lhes tinha confiado para cumprirem o dever que lhes era imposto. Foi lá, sob o calor e as chuvas tropicais, que os Capitães se aperceberam mais completamente do Portugal que sangrava em consequência de uma miséria à qual estava sujeito; do Portugal atrasado que o fascismo deixara crescer para melhor o explorar, para melhor lhe arrancar o suor da testa; do Portugal que era pai para muito poucos e padrasto para quase todos. Esse Portugal conheceram-no bem os Capitães de Abril e, por isso, recusaram o «estado a que isto chegou» no dizer de um dos seus mais lídimos representantes. Recusaram quando começaram a conspirar, arriscando como mais ninguém a sua carreira e, talvez, a sua vida; recusaram quando saíram para a noite escura, depois de terem ouvido na rádio a primeira senha – “E Depois do Adeus” – nas primeiras horas de 25 de Abril de 1974.
A Associação 25 de Abril, que reúne no seu seio, a maioria do militares de Abril de 1974, tem toda a legitimidade – legitimidade que lhe vem do facto de aos militares das Forças Armadas se dever, há trinta e oito anos, a democracia e a liberdade – para afirmar que o presente Governo está a atraiçoar os ideais de Abril quando, através de uma “suave revolução” reduz, de novo, o Povo à miséria em nome dos valores da alta finança, em nome dos valores da desigualdade, da servidão e da humilhação.
Não há voto popular que legitime um Governo como aquele que se senta hoje nas cadeiras do Poder em Portugal. O voto popular – o voto de uma minoria dos Portugueses – deu legitimidade às promessas que foram feitas e não foram cumpridas! Não legitimou a mentira!
E essa verdade só tem força legítima para a gritar bem alto aqueles que, em nome do Povo, pelo Povo e com o Povo, deram a Portugal a democracia, a liberdade e a promessa de desenvolvimento.
Fio de Prumo
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